Ps:

Não liguem à eventual junção da musica com a poesia. Ainda n me dei a esse trabalho... nem sei se me vou dar... mas gostava... um dia
Alias... nem liguem à poesia... ainda n me dei ao trabalho... tenho mais que fazer... isto são só laivos de uivos à lua... mas gostava um dia...

Sunday, January 31, 2021

Descida ao mundo do tempo

 


 

Descia de vagar

Porque era vagar que tinha.

Divagava e vagueava nesse vaguear.

Adivinha-

va a vaga de ar

entendido, que se suponha.

 

Corrompido escutava ao que me opunha

E alisava o ser inebriado.

 

Descia esse sentido

E, mudo, temia o tempo do mundo.

Sabia até que vagamente entendia alguma coisa

Poisa-

Va inebriante o desfragmento do unguento,

Que, do

Quieto gueto,

Aquietava.

 

Descia ao mundo do tempo

Pois precisava

disso. Disseminava o riso,

de quando em vez e de vez em quando

até,

que, de submisso, nisso se perdeu.

 

Descia até ao fim do tempo

E finalmente se abriu

Que o tempo do riso é constante

, Imaterialmente imortal até,

e

 

 

Saturday, November 7, 2015

O SONHO SONÂMBULO


 

1

Que me dizem esses senhores

Astronautas que trazem  o novo undo?

Riu do que vivem os sonhadores

(Faço guardas ao povo que comando

 

Pois ouvi dizer que alguém em algum momento

Libertava o sentimento)

Que tão simples que é dominar essa vanguarda

E ao partir isso, criar alheamento Insaciável.

 

 

2

Ouvi algo em algum momento  desta vida

Que vivo.

E vivo então ouvi,

que era possível tornar tudo diferente

 

.

3

Que podereis fazer ? (Esses ases asados e assados

Não te olham de frente)

 

 

2

Escuto cada momento

Esculpo dementemente

 

 

***

1

A liderança é como uma lança

Côncava, (que dormente adoece

Adormece e adorna após o primeiro movimento)

 

 

0

De inclusão?…

 

 

2

Que diferença me faz o absurdo

(Dos obtusos astros nautas)?

Posso pensar até que me faz sonhar, voar

E tornar a ecoar a impossibilidade.

 

 

1/2

Pensar, penar e pesar a indiferença da diferença

E pelo que pejo.

 

 

3

Pelo que seja pelo menos isso.

Que me torna omisso.

 

 

***

0

Tanto quanto sei a abundância da ânsia

é uma chave como outra qualquer.

A inquietude do calo cantante

Havia um calo que cantava
todos os dias de manhã
tornava-se inquietante
esse calo cantante

Depois achava que, por ser de lã.
quem o protegia era fraco.

Triste remoer e sina desse ábaco.

Sunday, February 22, 2015

A dança das Avós (para os netos) A dança dos Avós (para as netas). (parte inicial da vida)

A dança das Avós é uma dança
Que amiúde se deve fazer com as Avós.
A ciência da vida é ávida (havida)
da vida devida a quem nasceu...

Que Amor pode haver?

O Amor dos país é um amor cuidado
em medo. Cuidado com os país!


O Amor dos Avós é o amor descuidado.

Com o Coração em Coroação



Com o Coração revivo a amplitude do meu olhar!
Como posso melhorar a consciência?
E eis que me questiono nessa ciência,
Da qual não devo  (não posso)(não possuo) o abdicar.

Com o Coração vejo o que devo viver,
E eis que me surge a omnipresença
De um certo jeito de ver a vida
Que me acompanha no dia a dia.

Com o coração sinto o que é morrer
E não morrer.
Se não conseguir a força de poder viver
Como pretendo que seja a vida?

Com o Coração vejo a Coroação
De instintos omnipresentes.

Que maior omnisciência existe
Que a noção da nação a viver o ver do haver
da comunhão alegórica do que é morrer?

[3?

Que noção existe em nós do que é a vida?
Que coração nos leva à coroação da vida rendida?

Saturday, February 14, 2015

AS HORAS, AS HORDAS E A BRANQUITUDE


 

Reduz o desnecessário.

Vê como um gato.

Assume o compromisso do teu ser e

 Sê a sede!

 

A sede e a seda são irmãs

(Num certo sentido estrábico)

Assume o compromisso do teu ver

Vê! (Num certo compromisso estrábico)

 

 

A hegemonia do teu olhar cega-te

no perfume do teu ser sentado.

Em sentido! (portanto)

 

 

*

O perfume,

Valoriza-te internamente.

 

A loucura desnecessária imortaliza-te

perante ti a penas,  

(nessa apneia que te aperta)

 

 

As horas são as hordas do dia a dia

As penas são, apenas a

branquitude do teu olhar

 que te assegura

A lei da força que nos move



O surreal do desconhecido
É a forma como vemos o real do conhecido.
A forma como vemos o descabido
É o real do que apreendemos, e assim compreendido
É lei.

Que nos move, para alem de nossas fronteiras,
Se não a impossibilidade de dominar o conhecido?
E perante essa fraqueza, entendida, a transformação
Começa.

Reconheçamos a lei da natureza
humana
Que nos move perante o medo,
Que nos move para o incompreendido.

Tudo, o que não for nesse sentido, é preguiça.
(Digamos que a diplomacia
dos dois
extremos, extremados, de nosso ser
é uma razão desnecessária.)

Reconheçamos nosso vazio enquanto não o fizermos.
Reconheçamos nossa vontade lasciva de colher o fruto
De nossa vontade

O que nos espera é o resultado do compromisso
que assumimos, em nosso desejo de felicidade amena.

Que nos faz ficar pardos e parados
Perante o desafio que ansiamos?

Wednesday, March 7, 2012

O violino cantor


Sinto-me vazio de pensamento
Afastado desse contentamento
Oriundo de minha luz divina

Sou um viajante solitário da rua nua
De minha vontade organizada.
Caminho sem saber como.

Ando na escuridão de não ver
A cidade do juramento de meu nascer.

Oiço a loiça a partir o vacuo.
Recuo e anestesio o rouxinol.
A manhã é amanhã ao som do violino.

Violino cantais mais alto que o destino?
Pois cantai porra!

Tuesday, March 6, 2012

Ralph lauren destilado


Destilo o lauren de minha ovelha leiteira
Crucifico o ralph tresmalhado da eira
Cumpro o julgamento do capital da soalheira
E conto até três reis magos de ouro.

A palavra está arbitrariamente no outro lado
Da fronteira de meu capital capitulador
E prontes vou fazer uma casa
que dure até amanhã ao por do sol bancário.

Hoje ainda não é o por do sol bancário
Vou beber uma cerveja
Amanhã logo vejo se vou até Genebra
Construir um telhado para quem me roubou o sol.

Libertinato


De mio solo soi
De mio solo soi lebertinato soi
Que me soi lebertinato
Et cornucospicuo elah

Ey vaich soi troh
Et vai corcoleth
Cornith solith vai
Et cor.

At emnacher
Cruih zoth shar
Et vai soi colah
Cuih
Corahna
Vai ichlah
Cohum corth
Cohnm.

Libertinato soi

A arma


A arma dos desocupados é a ocupação sincera de sua desocupação
A arma dos fieis é a infedilidade sincera de sua fidelidade
A arma dos carnivoros é a alface
A arma dos vegetarianos  é a carne

A arma dos armados é o desarmamento
A arma dos desarmados é o armamento
A arma do sol é a lua
E da lua é o sol.

Obtuso lembrar


Lembro-me pouco profundamente de quando escrevia poesia
- Qual cadela vádia em busca de conhecimento.
Lembro-me pouco profundamente de como via a glória do dia
- Qual obtusa alegria de quem não tem argumento.

Erradicados esse predicatos.
Eis que se me confere a não existencia poética.
Enumerados os dons errados,
Leis , cornucópias e machados de dialética.
Eis que se me confere a não existencia.

Rivalidades, á parte de mim próprio,
Sois a carnificina de dons em demasia.

E o sol aquece, no seu argumento, a alma.


Wednesday, August 24, 2011

A realidade transcendida

As cores são as cores do mundo que vemos
E o mundo que vemos são as cores do que queremos
E as quores que queremos são o mundo que nos rodeia
em pensamento.

E o som?! O belo som que nos emancipa a alma?
É o som que, de alguma forma, nos emancipa
A alma.

E o ruim disso tudo é que
Não nos apercebemos, por vezes,
Disso tudo.

Ah! Das cores que nos emancipam o som da alma
Ou do som que nos emancipa a cor do espírito
Que seria de nós sem isso, que não vemos realmente?
Seriamos por ventura desfasados de realidade transcendida.

Thursday, August 18, 2011

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Sadn.sa

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Friday, April 22, 2011

A uma mulher o Céu

A uma mulher deve-se: tocar como à seda mais bela;
Sentir o despertar da energia; Sentir o desapego do corpo
-O renascer da situação a que se propõe pelo nascimento.

A uma mulher deve-se falar como se de um jardineiro
A flor sentisse sua nudez, na palavra que a emancipa.

A uma mulher deve-se fazer a estrela mais distante como sua.
Mas que seja no olhar. Mas que seja no que se diz sentido.
Eu vou lá. Vou! Encontro forma de to dizer, que te amo,
Assim como o queres, se for assim que tu o queres.

Mesmo que seja o que não queres estou disposto a tudo
Para to dizer: o quanto significas; o quanto vales no peso
Que dou à significância na minha passagem.
Acredita que te dou mais a ti do que a mim.
É assim que me devo fazer sentir. Não tenho outra forma.
Amo-te. É suficiente? Se não for invento outra forma de to dizer:

"Pela minha vida!".



E a um homem?
Que deves dizer mulher? Que o pensas ter
Adquirido. O direito de tudo o que mereces.

Sexo? Sim ou não? Bom ou mais ou menos?
Suficiente? É uma troca? É suficientemente bom?
Dizes? Ensinas o que queres? Ouves como te querem?
Auscultas o batimento do ritmo que te quer penetrar?
- Que te quer fazer sentir a grandeza de seu amor
(Se for dessa a natureza da grandeza que procuras)
Listening a imensidão do oceano de teus reflexos?
(Que, apesar de suas frias águas, é o eu espelho)

As mulheres!
Lindas!
Os homens que são para as mulheres que querem ser?
E o coração de um homem? Gelo?
Não será medo perante?
E o equilíbrio no romântico actual?

Somos invariavelmente e sempre a árvore que plantamos.

Poesia I?

De que me serve a poesia se não
Consigo a alegria de um olhar humilde
que me diz:
Olha a comunhão de todos!
Olha o absorvente sentir de felicidade!
Vê a alegria que não se diz de outra forma.

Realmente penso, por vezes, para que me serve
Isto que se escreve e que está absorvido no ritual da constante
Alienação a que nos depomos como anjos absortos em
Nossas infelicidades.

De que me serve afinal esta aura de almejo?
Esta lira de sonho: tão nobre o som que me emancipa
Como semi-deus em comunhão de meus pais.

Escuto o que, é o que em sonho não vejo o que é,
Por intermitência de meu sonho, não vejo:
-demasiado obliquo para meu despertar,
Que me adormece em dias desiguais do que espero.

Ah que seria de meu invariável olhar se não visse
O que espero desde criança?
Seria uma desilusão desigual na minha igualdade falsa.
Seria um rechaçar da bala que me fere o coração de irmão
que, com medo, não espera nada mais que o medíocre.

Ah! Que seria do ah! Que seria do suspiro por um mundo novo
Que sobrevive na, ténue e fina, película absorvente do sonho?

Saturday, April 9, 2011

Ermegildo ressuscitado

Ermegildo ressuscitou - disse-me ele.
Disse-me ainda que tinha visto algo.
Que algo foi esse? – perguntei.
Mas morreste? Foi? Ou estás a falar metaforicamente?

Não me soube responder.
E assim fiquei eu nestas dúvidas.

Porquê? Porque é que se me colocam sempre estas questões
De difícil análise?
Porque tenho que ficar insaciado ao ponto de quase enlouquecer?

Ermegildo olhou para mim espantado.
Não sabia o que dizer.
Não esperava que eu tivesse esta reacção.
Que poderia ele esperar? Afinal não estava preparado
para ressuscitar.
Muito menos para as minhas questões de ordem metafísica
que apenas resvalam para a ordem prática dos que praticam
a prática da metafísica.

Ermegildo era prático. Apenas sabia que tinha ressuscitado.
Quando morrer novamente logo penso nessas coisas pensou ele
-certamente.


(E para quê pensar na morte ou nas consequências da vida que se leva?

Gostava de ser prático como o Ermegildo. Mas não sou. E vou enlouquecendo pouco a pouco. Gostava de ressuscitar como o Ermegildo. Mas não ressuscitei. E ele não me soube dizer como era lá do outro lado. Do lado da confusão. Lá terei que relativizar esquecendo-o enquanto for vivo.

Mas se faço isso então que objectivo o meu? Ser rico (dinheiro)? Ser feliz (dinheiro)? Como dinheiro)? Se não acreditar num julgamento no divino...É roubar. É matar... sem ser apanhado – há muita forma não é? Passeava alegremente pela rua como se não fosse eu. Exigia respeito porque era doutor… de alguma coisa (dinheiro).

Qualquer um é doutor... desde que tenha dinheiro. Não importa de onde nem como…nem que tenha vindo de relegar à pobreza um conjunto de indivíduos que multiplicaram a histeria animalesca da sobrevivência ao ponto de causar o sacrifico litúrgico dos homens bons (assim não empenhados convenientemente no despertar).

- Para mim os políticos dilapidadores (ladrões) são os piores animais que podem existir. Aproveitam-se da esperança. Da esperança depositada. De milhares depositada… e fazem o levantamento dos vulgos metais que, na sua triste forma de ver, lhes conferem respeito. Que pior forma de viver. Não vêm que não têm respeito de ninguém de boa índole a não ser dos parasitas seus pares?

- A triste questão da licitude e da moralidade. Muito lícitos certos políticos sim senhor... Pois que cada ladrão desses cria mais de cem na rua. Rezo para que haja Deus… e o Diabo…

Mas quem foi que me pôs esta ideia de julgamento? de boas acções? E a dúvida? A constante dúvida. Quase certeza. Mas ainda assim... dúvida. Devemos ser bons ou não? Que exemplos para seguir de ordem prática? Não metafisica. - Não quero os santos canonizados Tudo o que vejo: os bons: coitados e tolos… gozados por serem bons. )


Porque foi que me ressuscitas-te Ermegildo?
A lógica da sobrevivência confere-nos ainda acidez espiritual?
Para que foi que me ressuscitas-te Ermegildo?

Thursday, February 17, 2011

A natureza de uma certa coisa

Vai contra a minha natureza viver como escravo.
Não sei como alguém pode viver uma vida destituída.
E no entanto escravo o sou, em minha ânsia de liberdade.
Curioso como os extremos se tocam, e não querendo ser escravo
escravo sou.


É da natureza das coisas serem o seu contrário.
É da minha natureza essa escravização que faço de meu espírito.
O destino que me compete e que, mais uma vez seguindo o contrário,
não me compete - seja o destino seja a competência - pela inversão
da natureza das coisas.


Mas vai contra a minha natureza viver como escravo.
Preferia antes morrer de fome do que morrer de espírito.
E pergunto-me: será que alguém realmente tem o desejo sublime
de ser escravo como opção de vida?
Creio que será ou um acomodar pelo medo ou uma falta de consciência.
Ambos, no entanto, por alienação de um facto inalienável: A morte!
O que é o medo de morrer se não a falta de consciência perante essa inexorabilidade?


Portanto vai contra a minha natureza viver como escravo.
E no entanto vivo como um. Não sei porquê.





Saturday, February 5, 2011

Nevoeiro e visão

Soltem as amarras da ocasião

Que fique translúcida do momento

Que fique.

Embriagada e vibrante de elevo

Do Oriente.

Que fique.



E após este

Eis que nada mais se me apraz

De já do que já vi - vulgo dejávu.


E eis que pois que fique o tique:

De abominações lascivas;

De inebriantes tentativas;

De ocultadas figuras de espiritus resolutus

Em suas aguerridas tréguas.



Olhais então a insustentavel materialidade.





Wednesday, January 26, 2011

Sem título - por inefabilidade apaziguante

E pergunto-me ao mar e à terra de que me serve a poesia.
E perscruto o infinito que me eleva a hora cheia 
E a hora vazia.
E caminho por entre dóceis tacteares do tecido do universo.
Ora colhido. Ora encolhido.
E por vezes penso no inverso disso tudo que nunca pensei.
Que nunca quis me atrever a pensar, nem aludir.
E no fim. É apenas um fim.

Thursday, January 20, 2011

O Coveiro morreu

O coveiro morreu. Inesperadamente.
Sem que nada o fizesse prever. Diria mesmo.
Uma questão de ordem prática se coloca ao incógnito
(assim como o coveiro - já que falamos de uma incógnita pequena
terra)
administrador do processo da gestão administrativa dos enterros:
     - Quem irá enterrar o coveiro?

Respostas possíveis:
     - Espera-se para dar formação em enterros a alguém?
     (mas quem?)
     - Alguém com a prática derivada de assistir a enterros
     poderá, com alguma boa vontade, ajudar?
     - Chama-se o coveiro da terra vizinha?
     - O próprio administrador faz e tapa o buraco? (duvido)

Uma miríade de soluções/questões, feliz ou infelizmente,
Se lhe deparam no caminho de seu pensamento
Administrante, em face das circunstâncias inesperadas.

Haverá algum plano de contingência definido para tal situação?

Ps: Claro que há. A morte é um negócio dos vivos.

Friday, December 31, 2010

Olhaivos ascéticos religiosos

Tomai o que procurais se sim
Tornaivos vaidosos
Tormaivos com alecrim
E pois que sim que é
O que é
E depois pisaivos assim
Que é o que é
E pois que sim
Assim
Tomávios ascéticos.
e

Idolatria

Eis a idolatria do subconsciente:
Viviam os idolatras nessa feitoria remanescente
Viviam o que viviam
Os idolatra dores viviam assim
E não sabiam.
Até que ficaram a saber que idolatravam
E escolheram se queriam idoltarar
Ou não
Os que não chegaram a saber que idolatravam
Não poderam escolher
Se idolatrar ou não.
Eis a consciência da idolatria
A partir de aí ou daí
É uma questão.

Thursday, December 16, 2010

O dia que me morreu

Porque foi que me morreu o dia?
Como foi que me morreu o dia?
Que fiz eu para merecer essa moradia
Que me abrigou? …

Que razão dei eu a essa coisa
A que chamo o tempo que poisa
Na consciência das tarefas?

Sinto a mim a nostalgia
Desse dia que me morreu
Porque sem me dar em conta.

Sou o mago de uma maquinaria
Que me faz perder o dia.
Mais por me esconder (escolher a fantasia)
Do que por outra coisa qualquer.

Wednesday, December 1, 2010

Abdominais

Há uma mulher
com quem tinha um compromisso.

Levava-mos a noite
a beber
a comer
a conversar
E quando já nada o fazia prever
fazíamos o amor.

Outras vezes trocávamos a posição
das tarefas ritualizadas. E fazíamos o amor
Ou no inicio ou pelo meio,
Ou no inicio e depois pelo meio. Enfim.

Numa dessas conversas perguntei-lhe:
- Que gostas mais em mim?
Ela respondeu: - Os abdominais!

Percebi que o que ela queria não era conversa
Era ver os meus abdominais
em expansão-regressão sob seu corpo desnudado
e ansioso a cada regressão por uma nova expansão.

A partir daí
começamos a conversar muito pouco.

Saturday, November 13, 2010

Uma e outra vez e outra ainda

Nada há de mais belo
Que o cantar de um pássaro.
Já o disseram muitas vezes.
Mas eu digo-o uma outra vez.

Nada há de mais belo
Que o sorriso de uma árvore.
Já o disseram muitas vezes.
Mas eu digo-o uma outra vez.

O cantar de um pássaro
leva-nos para esse mundo
que antes do nascer procuramos.
E procuramos uma e outra vez.

O sorriso de uma árvore
recorda-nos o que somos.
E procuramos uma e outra vez.

O valem

Cada minuto que passa é menos um.
Um que já passou e se foi no obséquio
do tempo que me é e foi dado.
Quando será o ultimo? Pergunto-me.
Aquele para o qual já não há outro depois.
Será que quando esse divinizado espaço de tempo
me abrigar laconicamente em sua casa,
em sua insustentável imaterialidade,
haverá plenitude por minha consciência?
Terei o carácter de quem já sabe que é assim?

Sustenho-me, a cada compasso da existência, nessa dúvida.
Apercebo-me que essa realização não irei partilhar.
Rezo, ao que me convém, para que nada corra mal,
pois é um momento de suma importância para mim.
Diria mesmo decisivo.
Rezo para viver uma vida que me permita encarar
nos olhos da morte o doce embalo da paz alcançada.
Nada, na minha opinião, há de mais importante
do que morrer moralmente saudável.
Todos os sacrifícios o valem.

Tuesday, November 2, 2010

Lembrando-me de ladrar

Lembro-me que me devo lembrar de lembrar
Que me lembro do momento em que não me lembrei
De lembrar que me lembrava do que me lembrava.
Lembro-me pois agora, tarde demais para me lembrar,
Que me devia lembrar do que não me lembrei
De lembrar que lembrava.
Mas pois agora me lembro que me lembrei de lembrar
Que me lembro do momento em que não me lembrei
Para não mais esquecer que de vez em quando devo
Ladrar
À memória como não ladrei quando me esqueci
de tal coisa.

Monday, October 25, 2010

Os seres que vivos não nos são

As árvores…
As árvores gritam de júbilo.
As árvores choram
As árvores têm medo
e eventualmente esperanças.
E as flores
e tudo o que é flora, também.

Observem as árvores
no seu movimento mais intimo.
Invisível e indizível.
Abracem e beijem…
Sentem-se…
Conversem...
Estendam seu estado de espírito
e o quanto vos faz falta.

Percebam o que é ser árvore.
Verão que perceberão um pouco melhor o que são.

Monday, October 18, 2010

O que existe

O que existe é o que me é/foi dado ao ver
-não à visão.
Existe porque vejo.

O que existe é o que me é/foi dado ao tocar
- não ao tacto.
Existe porque toca.

Podem dizer que existe
- que não tendo visto não existe
- que não tendo tocado não existe

Tudo o que visto - e tocado – existe.

Até o, em delírios dilacerantes e equivocados,
existir de minhas suposições frenéticas, existe.

Tudo o resto não existe.
Mas, se não existe, existe
porque precisamente não existe.
Este é o não existir que, me tocando, eu vi.
O não existir que não me tocou continua a não existir.

E no entanto existe…
e voltamos à elipse de mil espelhos que reflectem mil espelhos
e exponencialmente se multiplicam até ao infinito que existe.

Wednesday, October 13, 2010

A crise orçamental e o ciclo social numa tendência.

A crise orçamental leva-nos ao controlo orçamental.

Agora subimos receitas. Asfixiamos a pequena e média burguesia.
Os pobres não interessam. Não têm voto na matéria.
Vivem como cordeiros que seguem seu pastor.

A pequena e média burguesia torna-se forte – os sobreviventes.
Dizem: Pois agora que se controle o estado da máquina Estado.
Já estamos fartos do controlo máquina famílias burguesas.
Sacrifico-me se houver moeda de troca. E essa moeda é a eficiência
de quem nos leva o dinheiro - Os nossos prestadores Estado.

Agora descemos custos. Asfixiamos a pequena e média burguesia
- Tecnocratas que não interessam. Não têm voto na matéria.
Mas, engrossando a fileira da contestação, alguém mais deve sacrifício.
Os tecnocratas profissionais do poder – mas poucos. Calemos a boca!

De tempos a tempos têm que ser cada vez mais
tecnocratas do poder a usar do crédito de seu sacrifício.
Pois a cada onda - a cada vaga social – aumenta a força,
pela indução da prática da sobrevivência ao ciclo, do meio.

De tempos a tempos a máquina Estado ganha
o poder da eficiência.
E o meio ganha o poder de poder contestar.
Sempre e sempre estaremos em contestação.

Aqui começa outra pirâmide social. Outra máquina.
A da revolucionaridade-reacionaridade
como mecanismos da primeira pirâmide-máquina.
Estas pirâmides-máquina são interdependentes.
Cada uma mexe e é mexida pela outra.

Falamos no abstracto (pirâmides-máquina)
mas falamos de pessoas.
Estamos a classificar ideias dos movimentos
do eu pessoa- sociedade.

As pirâmides transformam-se em roldanas
Como num relógio preciso nos tempos.
Os tempos, os movimentos da sociedade.
Vai até ao infinito do abstracto esse relógio social.
Ao tudo como um labirinto.
Ao nada como um labirinto.
Pois o infinito é de tal forma que volta ao ponto de partida
E acabamos por não sair do mesmo sítio.
Mas já noutro sítio. Se olhar mais do fundo.

Alcançamos a periferia?

Wednesday, September 8, 2010

Do nada e do tudo

O nada é o tudo enublado pela profusão do tudo
inerte na indecisão dos murmúrios dos vários contrapontos
que se engalfinhando, como certos animais
em busca do ultimo pedaço do alimento que sacia sua fome
- doravante voraz e a cada voracidade uma vez mais voraz,
se anulam até entorpecer, com sonhos constantes e enevoados
pelos em si mesmos induzidos albergues da letargia, a mente.

É isso que é o nada.

O nada é o tudo desconexo do que é o algo estruturado.
São os gritos do aqui e do ali, do alem e do acolá
que, como guerreiros de várias facções inimigas de si mesmas,
se vêem do nada em plena batalha sem saber quem ferir ou salvar.
E chorando e reclamando atenção, desejam a totalidade do nada.
Despejam a totalidade do nada na totalidade do nada
tornando a totalidade em nada e o nada em nada e tudo.

É isso que é o tudo.

Tuesday, September 7, 2010

Os nomes que não são

Tu ò leitor ou leitora desta leitura:
É importante que me chames pelo nome
É importante que me chames pelo que eu não sou.
É importante a referência da existência que apenas existe para se referir.
Os nomes que não são as propriedades são apenas os nomes.
Apenas o nome do nome é a propriedade do nome.

Portanto tu que lês ou que ouves por ventura -
E que ajuízas cada um destes nomes e forças de acção –
É importante que me chames pelo que eu não sou.
É importante que me chames pelo nome:
Para referência de minhas propriedades, se for a mim essa sorte
ou para referencia de diferenciação se for a mim sorte diferente.

Portanto que seja o que for que não seja o que sou ou o que for
ou que tudo isso seja engano do precioso contrario de si mesmo.

No entanto é importante
– para ti e para mim –
que me chames pelo que eu não sou.
Chama-me pelo que te referi ainda agora.
Chama-me pelo teu nome.
Chama-me pelo nome do que te aprouver que eu seja.

E assim, decidindo a tua clarividência,
Chamas-te a ti e te abrigas no que é teu pelo que acabei por decidir.

Sunday, September 5, 2010

O vazio e o cheio

O vazio é o vazio.
Estamos vazios quando estamos cheios.
O cheio é o cheio.
Estamos cheios quando estamos vazios.
É assim se no vir.
E assim se vive.

Mais umas quantas coisas que agora não me ocorrem.

Sunday, August 15, 2010

O amor

O amor é algo que existe e que não existe
É a contemplação de nós próprios.
O egoísmo supremo.
Queremos bem por que queremos bem.

Instinto de sobrevivência.
Pura e animalesca.
O amor é o animal.
É o amor?

O amor é um corneto de morango
Ao fim de uma tarde de verão?
É o que é?
O amor é…
É o que nós somos…
- Animais –

Bem admitamos que o amor somos nós…
Já que nós somos o amor…
Mas somos animais…
Já que o amor é um animal:

Somos a incorporação animalesca de um deus maior?
O uno uno uno?
Não sei.
Posso apenas reflectir o que sou –
O que me ensinaram socialmente a perceber-
Sou um ---

não sei!

O amor é muito mais do que isso.
É percebermos o nosso corpo mamífero.
O nosso buda da sobrevivência.
É mais do que aquilo das montanhas
- distante e longe.

É o que quisermos.
O amor é o que quisermos.

E o que quisermos que seja o amor é o que quisermos.
Inventamos a palavra AMOR
- faz me sempre lembrar o gelado de morango –
Portanto a gente é que sabe.

Saturday, July 31, 2010

Olho para mim

Olho para mim (ao espelho)
E acho que a minha cara não é aquilo que sou.
É como ouvir a nossa voz gravada.
Completamente diferente da que ouvimos.
Quando falamos.
Suponho que o espelho seja como um gravador.
Mas sem memória.
Não tenho é alternativa ao espelho
Como ao gravador.
Ah! Os lagos e as águas límpidas e calmas do mar.
Mas vejo o mesmo. Mas mais deturpado.
Ah! As câmaras de vídeo e de fotografia.
Mas vejo o mesmo. Mas ainda mais deturpado.
Suponho que o mal menor (no meu caso)
Será mesmo o velho espelho.
E no entanto somente por vezes (poucas)
É que realmente me vejo.
Nas outras é um ser estranho que ali está.
Não sou eu. Não. Não pode ser.
E acho que ainda sou o que me via há 10 anos
(pelo menos - e falando no sentido estético).
E acho que não há espelho que me reflicta.
A não ser que olhe distraidamente
E com muita atenção para os meus olhos.

Breve teste à minha capacidade lírica neste momento

Só mais um pouco que o lirismo já vem



Mais um pouco



Já está!



Pronto!










Agora a sério…

De que me serviria um copo de vinho maduro
Sem o teu corpo húmido para o saborear…
Sem os teus lábios que o sorvam em mim…
Seu o meu mim que o sorva dos teus lábios…
Não. Não quero um copo do melhor vinho
Se não te ter para o sentir em ti.

Não isto não é lirismo
Isto é erotismo

Desisto
Não estou na fase lírica hoje

Vou rimar para variar (sobre o quê ainda não sei… logo se vê)

- Primeira frase ou estrofe ou quadratura do círculo:

Vinde a mim nobres laivos de saudade
Declamai-vos a meu ser sem idade
Para que se possa entumecer de vós
Para que seja o nós.

- Segunda qualquer coisa:

É saudade da saudade? É isso?
É intumescente compromisso?
E o que for de rim e ruim
É o que for de sinalética alfabética?

- Terceira:

É nada! É tudo! É palavra! E nada!
E absurdo que lava o Entrudo!
É carnal canibalismo de uma fada
Que nos admira o escudo.

- Quarta e ultima (porque isto é um soneto à Shake)

E o abominável homem das neves
Que pergunta para que serves?

- E pronto acabou.

[Isto da rima é fácil. O problema é fazer sentido ;):);):);):) etc - n sei mais ou n me apetece]

Agora que acho que sou poeta

- Ah os poetas! Os grandes poetas! Os senhores do unoiverso!
Os senhores de aquém e alem não sei o quê! –
Agora que acho que sou poeta
- e orgulhoso dessa metáfora de meu decrépito espírito –
Não sou capaz de escrever uma coisa que seja que ache bela.

Expectativas

Agora que sou poeta
- e dono dos sentimentos dos outros –
Tenho que escrever bem. O sublime universo de nós próprios.
- e como não há nós próprios não me encontro –
- e como não me encontro não há nós próprios –
- e escondo-me neste absurdo jogo de palavras –
- e vivo para os outros agora que sou poeta –
- é isso que é ser poeta? –
- viver para os outros? – sim e não e talvez

Agora que sou poeta questiono-me sobre a rima e o ritmo
E o sentimento e a forma
E questiono-me sobre tudo o que vejo – o que é bom
E mau – e sobre tudo o que sinto

E encontro-me e desencontro-me e vejo-me e não me vejo
Questiono-me ainda se devo usar o belo e elegante.
Questiono-me se não será preferível o deselegante e belo concreto.

De que me serve afinal isso?
Não sou poeta para agradar os outros
- agora que sou poeta –
Sou poeta para me agradar a mim.
Espero que o meu mim não queira agradar os outros

Ah! Agora que sou poeta era capaz de escrever um poema
Se não pensasse demasiado no que é a poesia
E para que serve
E a quem serve
E se me serve
E se me enerva
E se me atreve
E se me entreva
E se me é poética
Às vezes a minha poesia não me é nada poética
Dá-me vómitos até
Outras vezes acho que sou poeta
Dos bons até.

Agora que sou poeta posso dizer que sou poeta.
E na verdade acho que agora que sou poeta deixei de ser poeta.
[demasiadas expectativas de poesia de mim em mim]

Tuesday, July 27, 2010

Um cão na rua

Há um cão na minha rua
de quem eu tenho um certo medo.
Seja porque não o conheço,
seja porque ele não se dá a conhecer.
E sempre que o vejo na rua afasto-me
para ele ficar um pouco mais à vontade.
Mas num dia,
em que eu estava bem disposto e ele estava bem disposto,
até lhe fiz uma festinha.

Sunday, July 25, 2010

Palavras obscenamente deploráveis (sem sentido algum até)

Ah a lua! A lua brilha hoje! É sinal que a vejo.
É sinal que não há nuvens.
Radicalismos à parte, é sinal que estou vivo.
Ah a malandra da lua. Fez-me lembrar que estou vivo.
E logo a lua que me faz perder a vida por vezes.
Mas e depois compensa-me com as outras vezes que ma faz ganhar.
Ah! Radicalismos à parte.

Vejo um… como se chama… aquelas coisas que se põem de fora da casa…
Andaime. Sim. Andaimes. Vejo um.

Oiço um grito. Do que é não sei. Algum bêbado que se lhe apeteceu.
Sim é um grito de bêbado. Viva isto. Ou choro aquilo.
Os bêbados são todos extremamente ambíguos.
Nunca se sabe se é à vida vida ou à vida vida.
Digamos até extremamente voláteis de sentimentos.
Muito susceptíveis. Muito sensíveis à mínima deturpação da percepção.

Isecaias falou: e vós que vos banhais pelo mar de donde vais?
Ariel disse: ide-vos pois à liturgia divina de vós outros.
Esequiel argumentou: pois então ide-vos e que vos faça bom proveito.
E formaram o que não se disse ainda.
Forraram a letra a papel de alecrim.

Estupido! Alegorista! Intragável contrabandista de palavras.
Vives na fronteira e aproveitas o profícuo sonho disso tudo.
E o horribilis desfaratum?

Yolanda arguiu que é assim que as coisas são e devem ser como devem ser.
Disse ainda mais. Sugeriu que os sonhos são afazeres da alma.
Coisas não facilmente concretizáveis no plano do normal dessas coisas.
E afastou-se. Já tinha dito tudo a que se propôs.

Veio outro. Outro sinaleiro das ideias. Outra ideia absurda.
Não tinha nome esta ideia. E não disse nada. Apenas ficou um pouco.

Yovini o profeta: olá!
De donde pensas que vais? Que procuras ainda? Que searchas?
As conchas da praia? Cuidado! Há muito que foram comidas pelos tubarões.
Os simpáticos tubarões que visitam a praia em Agosto.
Queriam um cinzeiro os tubarões e levaram as conchas.
Mas não te apoquentes. Deixaram as beatas dos cigarros em troca.
Para te lembrarem para que servem as conchas da praia.
Os beats dos beach boys.

E vive-se o turbilhão do absurdum absurdamente assoreado.
Deploráveis desfasamentos ao sentido mais elementar.
Não faz sentido!? Pois não. Não é para fazer.
Para já. Esperemos que para nunca. O absurdum não deve reinar.
A não ser para momentos de singeleza à sua não observância.

A arte do telhado de vidro.

Sinto-me diminuído pelo tempo
Como todos se sentirão por ventura.
Os que não sabem envelhecer
Os que procuram a lua.

Crio expectativas. O tormento
de objectivos a alcançar inalcançáveis.
Batalho até me entorpecer.
Não vejo quanto me são frágeis
os telhados sem alicerces.

Luto para cair se não luto pequenas fracções.
A arte suprema é vencer cada segundo. Não cada vida.
A vida não se vence. Não se luta. Não se batalha.
A vida vive-se. O que se luta é pelo segundo.
Por cada golfada de ar.

Definido o plano maior eis que se impõe definir os menores.
Definidos os planos menores eis que se impõe lutar por eles.
Nada mais nada nesse momento. Nessa luta não pode haver.
Esse momento é só desse momento se não não é.

E pela sucessiva contemplação dessas pequenas vitórias
Eis que chego aos vectores do telhado. Sem dar por isso.
Quase como se acontece-se por obra e graça do destino.
Um telhado não se constrói sobre nuvens.

As nuvens apenas servem para sonhar o telhado.
Depois há que colocar cada tijolo no seu lugar.
Cada momento por momento. Cada coisa por coisa.
Cada pequeno espaço de tempo seguido por cada outro.
E nada mais. Nada mais. Nada mais.

Saturday, July 17, 2010

Do nada e do tudo

Não sou nada
e no entanto
quero ser tudo
e nada

Saturday, July 10, 2010

Todos os meninos riem e choram

Havia um menino que ria e chorava como os outros meninos.
Descomprometido. Pois não sabia o que era o compromisso.

E esse menino tornou-se homem. Mas sempre menino.
E ria e chorava como os outros meninos.
Com compromisso. Que o tempo era muito.

E esse menino tornou-se homem velho. Mas sempre menino.
E ria e chorava como os outros meninos.
Já sem compromisso. Que o tempo era pouco.

E num dia descomprometido esse menino morreu.
Mas os outros meninos continuaram a rir e a chorar.
Como todos os meninos o fazem.

[Morreu o rei!...
...
Viva o Rei!]

Um segundo só…

Por vezes ainda sinto o teu cheiro…
Ó memória não me pregues partidas.
Deixa o que não quero recordar descansar em paz.
Quão indesejável estás tu hoje ó memória.
Não vês que não quero lembrar o que já é esquecido.
Não vês que quero viver os afazeres do dia-a-dia.
Concentrado. Pois só assim se vive. Concentrado.
Mas por vezes ainda sinto o teu cheiro…
Um pouco um segundo só. O suficiente.
Como se passasse de relance o fantasma do passado.
Um segundo só. Como se não fosse nada.
Um segundo só que me é capaz de durar horas.
Quão economizadora nos é a memória.
Um segundo só e já está.
O passado vira presente e o presente é coisa nenhuma.

Monday, July 5, 2010

Estar apenas

Espero por ti meu amor.
Espero que me devolvas de novo.
Que me libertes da dor dos horizontes desiguais.
Que me libertes apenas meu amor.

Espero por ti apenas meu amor.
Nada mais me confere o existir.
Nas noites sinto o frio da tua ausência.
Em todas as noites sinto o frio da tua ausência.

Queria que fosse diferente meu amor.
Que as estradas percorridas fossem iguais.
Que as estrelas fossem nossas.

Queria chorar contigo as mesmas lágrimas.
Rir e sonhar os mesmos sonhos.
Estar apenas.

Sunday, July 4, 2010

Os rouxinóis

Os rouxinóis cantam. Fazem piu piu.
Ah! Os rouxinóis cantam! E eu oiço-os.
Por um milagre qualquer que agora não sei explicar eu oiço-os.
Mesmo que agora não cantem. Eu oiço-os.
Por um milagre qualquer que agora não sei explicar.

Os lobos

Há muitas luas atrás,
quando as estrelas no céu eram outras que não as de hoje,
um lobo inspirou e foi inspirado em sua alcateia.
Passavam fome os lobos e não sentiam o futuro.
E foram cobertos pelo beneplácito desse lobo os lobos.

Passaram as luas e o lobo,
destituído da vida em forma de lobo, foi esquecido.
Passaram as estrelas e várias as formas da matéria desse lobo.
E os lobos escolhidos persistem na ancestral forma.
E amiúde um lobo destaca-se para brevemente ser esquecido.

Thursday, July 1, 2010

A dança dos pombos e o cigarro

Um pombo desceu voando pela rua feito falcão.
Duas pombas estavam no beiral do telhado.
O pombo assentou na platibanda por cima do beiral.
O pombo fez a dança opada para a primeira.
A primeira encolheu-se.
O pombo fez a dança ufanada para a segunda.
A segunda encolheu-se.
O pombo continuou a sua dança, empapuçado, para a segunda.
Ou foi um encolher diferente ou o pombo não percebeu o sinal.
Rodopiava feito doido o pombo inchado.
Virava à esquerda e à direita e contravirava-se ao ritmo da sedução.
Desceu da platibanda para o beiral rasando a pomba.
Ensaiou a aproximação.
A pomba voou para a caixa externa de uma persiana em frente.
Lá estava outro pombo. O outro pombo fez a dança pombalina.
A pomba voltou ao local de origem.
O pombo original tentou saltar para cima da segunda pomba.
A pomba passou por baixo.
O primeiro pombo ficou no meio das duas pombas.
O pombo saltou para a platibanda.
Em posição cimeira, o pombo, dançou novamente.
Acabou-se-me o cigarro.
Saí da janela e fui à minha vida.
O resto é lá com os pombos.

Friday, June 25, 2010

A matriz incompleta (da paixão e do amor)

Olhei-te nos olhos e vi-te.
Fiquei apaixonado. Quem sabe talvez te ame
Olhei-te nos olhos e não te vi.
Fiquei apaixonado.
Olhei-te nos olhos e não te vi.
Não fiquei apaixonado.
Olhei-te nos olhos e vi-te.
Não fiquei apaixonado.

Não te olhei nos olhos e não te vi.
Não fiquei apaixonado
Não te olhei nos olhos e vi-te
Fiquei apaixonado. Quem sabe talvez te ame
Não te olhei nos olhos e não te vi
Fiquei apaixonado.
Não te olhei nos olhos e não te vi.
Mas amo-te como sempre te amei e hei-de amar