Ps:

Não liguem à eventual junção da musica com a poesia. Ainda n me dei a esse trabalho... nem sei se me vou dar... mas gostava... um dia
Alias... nem liguem à poesia... ainda n me dei ao trabalho... tenho mais que fazer... isto são só laivos de uivos à lua... mas gostava um dia...

Saturday, July 31, 2010

Olho para mim

Olho para mim (ao espelho)
E acho que a minha cara não é aquilo que sou.
É como ouvir a nossa voz gravada.
Completamente diferente da que ouvimos.
Quando falamos.
Suponho que o espelho seja como um gravador.
Mas sem memória.
Não tenho é alternativa ao espelho
Como ao gravador.
Ah! Os lagos e as águas límpidas e calmas do mar.
Mas vejo o mesmo. Mas mais deturpado.
Ah! As câmaras de vídeo e de fotografia.
Mas vejo o mesmo. Mas ainda mais deturpado.
Suponho que o mal menor (no meu caso)
Será mesmo o velho espelho.
E no entanto somente por vezes (poucas)
É que realmente me vejo.
Nas outras é um ser estranho que ali está.
Não sou eu. Não. Não pode ser.
E acho que ainda sou o que me via há 10 anos
(pelo menos - e falando no sentido estético).
E acho que não há espelho que me reflicta.
A não ser que olhe distraidamente
E com muita atenção para os meus olhos.

Breve teste à minha capacidade lírica neste momento

Só mais um pouco que o lirismo já vem



Mais um pouco



Já está!



Pronto!










Agora a sério…

De que me serviria um copo de vinho maduro
Sem o teu corpo húmido para o saborear…
Sem os teus lábios que o sorvam em mim…
Seu o meu mim que o sorva dos teus lábios…
Não. Não quero um copo do melhor vinho
Se não te ter para o sentir em ti.

Não isto não é lirismo
Isto é erotismo

Desisto
Não estou na fase lírica hoje

Vou rimar para variar (sobre o quê ainda não sei… logo se vê)

- Primeira frase ou estrofe ou quadratura do círculo:

Vinde a mim nobres laivos de saudade
Declamai-vos a meu ser sem idade
Para que se possa entumecer de vós
Para que seja o nós.

- Segunda qualquer coisa:

É saudade da saudade? É isso?
É intumescente compromisso?
E o que for de rim e ruim
É o que for de sinalética alfabética?

- Terceira:

É nada! É tudo! É palavra! E nada!
E absurdo que lava o Entrudo!
É carnal canibalismo de uma fada
Que nos admira o escudo.

- Quarta e ultima (porque isto é um soneto à Shake)

E o abominável homem das neves
Que pergunta para que serves?

- E pronto acabou.

[Isto da rima é fácil. O problema é fazer sentido ;):);):);):) etc - n sei mais ou n me apetece]

Agora que acho que sou poeta

- Ah os poetas! Os grandes poetas! Os senhores do unoiverso!
Os senhores de aquém e alem não sei o quê! –
Agora que acho que sou poeta
- e orgulhoso dessa metáfora de meu decrépito espírito –
Não sou capaz de escrever uma coisa que seja que ache bela.

Expectativas

Agora que sou poeta
- e dono dos sentimentos dos outros –
Tenho que escrever bem. O sublime universo de nós próprios.
- e como não há nós próprios não me encontro –
- e como não me encontro não há nós próprios –
- e escondo-me neste absurdo jogo de palavras –
- e vivo para os outros agora que sou poeta –
- é isso que é ser poeta? –
- viver para os outros? – sim e não e talvez

Agora que sou poeta questiono-me sobre a rima e o ritmo
E o sentimento e a forma
E questiono-me sobre tudo o que vejo – o que é bom
E mau – e sobre tudo o que sinto

E encontro-me e desencontro-me e vejo-me e não me vejo
Questiono-me ainda se devo usar o belo e elegante.
Questiono-me se não será preferível o deselegante e belo concreto.

De que me serve afinal isso?
Não sou poeta para agradar os outros
- agora que sou poeta –
Sou poeta para me agradar a mim.
Espero que o meu mim não queira agradar os outros

Ah! Agora que sou poeta era capaz de escrever um poema
Se não pensasse demasiado no que é a poesia
E para que serve
E a quem serve
E se me serve
E se me enerva
E se me atreve
E se me entreva
E se me é poética
Às vezes a minha poesia não me é nada poética
Dá-me vómitos até
Outras vezes acho que sou poeta
Dos bons até.

Agora que sou poeta posso dizer que sou poeta.
E na verdade acho que agora que sou poeta deixei de ser poeta.
[demasiadas expectativas de poesia de mim em mim]

Tuesday, July 27, 2010

Um cão na rua

Há um cão na minha rua
de quem eu tenho um certo medo.
Seja porque não o conheço,
seja porque ele não se dá a conhecer.
E sempre que o vejo na rua afasto-me
para ele ficar um pouco mais à vontade.
Mas num dia,
em que eu estava bem disposto e ele estava bem disposto,
até lhe fiz uma festinha.

Sunday, July 25, 2010

Palavras obscenamente deploráveis (sem sentido algum até)

Ah a lua! A lua brilha hoje! É sinal que a vejo.
É sinal que não há nuvens.
Radicalismos à parte, é sinal que estou vivo.
Ah a malandra da lua. Fez-me lembrar que estou vivo.
E logo a lua que me faz perder a vida por vezes.
Mas e depois compensa-me com as outras vezes que ma faz ganhar.
Ah! Radicalismos à parte.

Vejo um… como se chama… aquelas coisas que se põem de fora da casa…
Andaime. Sim. Andaimes. Vejo um.

Oiço um grito. Do que é não sei. Algum bêbado que se lhe apeteceu.
Sim é um grito de bêbado. Viva isto. Ou choro aquilo.
Os bêbados são todos extremamente ambíguos.
Nunca se sabe se é à vida vida ou à vida vida.
Digamos até extremamente voláteis de sentimentos.
Muito susceptíveis. Muito sensíveis à mínima deturpação da percepção.

Isecaias falou: e vós que vos banhais pelo mar de donde vais?
Ariel disse: ide-vos pois à liturgia divina de vós outros.
Esequiel argumentou: pois então ide-vos e que vos faça bom proveito.
E formaram o que não se disse ainda.
Forraram a letra a papel de alecrim.

Estupido! Alegorista! Intragável contrabandista de palavras.
Vives na fronteira e aproveitas o profícuo sonho disso tudo.
E o horribilis desfaratum?

Yolanda arguiu que é assim que as coisas são e devem ser como devem ser.
Disse ainda mais. Sugeriu que os sonhos são afazeres da alma.
Coisas não facilmente concretizáveis no plano do normal dessas coisas.
E afastou-se. Já tinha dito tudo a que se propôs.

Veio outro. Outro sinaleiro das ideias. Outra ideia absurda.
Não tinha nome esta ideia. E não disse nada. Apenas ficou um pouco.

Yovini o profeta: olá!
De donde pensas que vais? Que procuras ainda? Que searchas?
As conchas da praia? Cuidado! Há muito que foram comidas pelos tubarões.
Os simpáticos tubarões que visitam a praia em Agosto.
Queriam um cinzeiro os tubarões e levaram as conchas.
Mas não te apoquentes. Deixaram as beatas dos cigarros em troca.
Para te lembrarem para que servem as conchas da praia.
Os beats dos beach boys.

E vive-se o turbilhão do absurdum absurdamente assoreado.
Deploráveis desfasamentos ao sentido mais elementar.
Não faz sentido!? Pois não. Não é para fazer.
Para já. Esperemos que para nunca. O absurdum não deve reinar.
A não ser para momentos de singeleza à sua não observância.

A arte do telhado de vidro.

Sinto-me diminuído pelo tempo
Como todos se sentirão por ventura.
Os que não sabem envelhecer
Os que procuram a lua.

Crio expectativas. O tormento
de objectivos a alcançar inalcançáveis.
Batalho até me entorpecer.
Não vejo quanto me são frágeis
os telhados sem alicerces.

Luto para cair se não luto pequenas fracções.
A arte suprema é vencer cada segundo. Não cada vida.
A vida não se vence. Não se luta. Não se batalha.
A vida vive-se. O que se luta é pelo segundo.
Por cada golfada de ar.

Definido o plano maior eis que se impõe definir os menores.
Definidos os planos menores eis que se impõe lutar por eles.
Nada mais nada nesse momento. Nessa luta não pode haver.
Esse momento é só desse momento se não não é.

E pela sucessiva contemplação dessas pequenas vitórias
Eis que chego aos vectores do telhado. Sem dar por isso.
Quase como se acontece-se por obra e graça do destino.
Um telhado não se constrói sobre nuvens.

As nuvens apenas servem para sonhar o telhado.
Depois há que colocar cada tijolo no seu lugar.
Cada momento por momento. Cada coisa por coisa.
Cada pequeno espaço de tempo seguido por cada outro.
E nada mais. Nada mais. Nada mais.

Saturday, July 17, 2010

Do nada e do tudo

Não sou nada
e no entanto
quero ser tudo
e nada

Saturday, July 10, 2010

Todos os meninos riem e choram

Havia um menino que ria e chorava como os outros meninos.
Descomprometido. Pois não sabia o que era o compromisso.

E esse menino tornou-se homem. Mas sempre menino.
E ria e chorava como os outros meninos.
Com compromisso. Que o tempo era muito.

E esse menino tornou-se homem velho. Mas sempre menino.
E ria e chorava como os outros meninos.
Já sem compromisso. Que o tempo era pouco.

E num dia descomprometido esse menino morreu.
Mas os outros meninos continuaram a rir e a chorar.
Como todos os meninos o fazem.

[Morreu o rei!...
...
Viva o Rei!]

Um segundo só…

Por vezes ainda sinto o teu cheiro…
Ó memória não me pregues partidas.
Deixa o que não quero recordar descansar em paz.
Quão indesejável estás tu hoje ó memória.
Não vês que não quero lembrar o que já é esquecido.
Não vês que quero viver os afazeres do dia-a-dia.
Concentrado. Pois só assim se vive. Concentrado.
Mas por vezes ainda sinto o teu cheiro…
Um pouco um segundo só. O suficiente.
Como se passasse de relance o fantasma do passado.
Um segundo só. Como se não fosse nada.
Um segundo só que me é capaz de durar horas.
Quão economizadora nos é a memória.
Um segundo só e já está.
O passado vira presente e o presente é coisa nenhuma.

Monday, July 5, 2010

Estar apenas

Espero por ti meu amor.
Espero que me devolvas de novo.
Que me libertes da dor dos horizontes desiguais.
Que me libertes apenas meu amor.

Espero por ti apenas meu amor.
Nada mais me confere o existir.
Nas noites sinto o frio da tua ausência.
Em todas as noites sinto o frio da tua ausência.

Queria que fosse diferente meu amor.
Que as estradas percorridas fossem iguais.
Que as estrelas fossem nossas.

Queria chorar contigo as mesmas lágrimas.
Rir e sonhar os mesmos sonhos.
Estar apenas.

Sunday, July 4, 2010

Os rouxinóis

Os rouxinóis cantam. Fazem piu piu.
Ah! Os rouxinóis cantam! E eu oiço-os.
Por um milagre qualquer que agora não sei explicar eu oiço-os.
Mesmo que agora não cantem. Eu oiço-os.
Por um milagre qualquer que agora não sei explicar.

Os lobos

Há muitas luas atrás,
quando as estrelas no céu eram outras que não as de hoje,
um lobo inspirou e foi inspirado em sua alcateia.
Passavam fome os lobos e não sentiam o futuro.
E foram cobertos pelo beneplácito desse lobo os lobos.

Passaram as luas e o lobo,
destituído da vida em forma de lobo, foi esquecido.
Passaram as estrelas e várias as formas da matéria desse lobo.
E os lobos escolhidos persistem na ancestral forma.
E amiúde um lobo destaca-se para brevemente ser esquecido.

Thursday, July 1, 2010

A dança dos pombos e o cigarro

Um pombo desceu voando pela rua feito falcão.
Duas pombas estavam no beiral do telhado.
O pombo assentou na platibanda por cima do beiral.
O pombo fez a dança opada para a primeira.
A primeira encolheu-se.
O pombo fez a dança ufanada para a segunda.
A segunda encolheu-se.
O pombo continuou a sua dança, empapuçado, para a segunda.
Ou foi um encolher diferente ou o pombo não percebeu o sinal.
Rodopiava feito doido o pombo inchado.
Virava à esquerda e à direita e contravirava-se ao ritmo da sedução.
Desceu da platibanda para o beiral rasando a pomba.
Ensaiou a aproximação.
A pomba voou para a caixa externa de uma persiana em frente.
Lá estava outro pombo. O outro pombo fez a dança pombalina.
A pomba voltou ao local de origem.
O pombo original tentou saltar para cima da segunda pomba.
A pomba passou por baixo.
O primeiro pombo ficou no meio das duas pombas.
O pombo saltou para a platibanda.
Em posição cimeira, o pombo, dançou novamente.
Acabou-se-me o cigarro.
Saí da janela e fui à minha vida.
O resto é lá com os pombos.